Como profissional de educação, certamente concordará que ensinar uma criança vai muito além de lhe transmitir conhecimentos sobre as diversas áreas académicas. É um processo holístico e complexo que visa prepará-la para a grande jornada que é a vida e, para tanto, é essencial promover uma mentalidade que permita à criança enfrentar desafios com confiança e resiliência.
Certamente, já terá ouvido os seus alunos a fazerem afirmações como estas:
“Eu não tenho jeito nenhum para desenhar.”
“Eu não sou boa a matemática!”
“Desisto!”
Estas afirmações, ditadas pela voz crítica que, também nós, adultos, ouvimos internamente, têm o poder de criar insegurança e dúvida. Nem sempre temos coragem para arriscar, experimentar algo novo ou tomar um caminho diferente e, com as crianças, acontece o mesmo. Apesar de afirmações como estas as protegerem do fracasso, do erro e da dor, elas também têm força para minar a confiança e o gosto pela aprendizagem. Uma criança que constantemente pensa que não é capaz, vai acabar por não ser mesmo capaz.
Até agora, ao longo destes anos em relação estreita com escolas e profissionais de educação, não ouvimos ninguém dizer que se sente bem ao vivenciar situações em que os alunos desistem, verbalizam a sua crença de incapacidade ou sentem medo de fracassar. Pelo contrário, os profissionais de educação, tal como os pais, querem estar na presença de crianças confiantes em si mesmas, com vontade de arriscar e disponíveis para aprender, mesmo diante das adversidades. Mas como podemos ajudá-las a criar um ambiente mental favorável a estas atitudes?
O que é o Mindset de Crescimento (Growth Mindset)?
Carol Dweck é o nome incontornável na literatura do Mindset de Crescimento (ou Mentalidade de Crescimento). A autora define este conceito como a crença de que “a minha inteligência e qualidades são aspetos que posso cultivar através dos meus esforços, estratégias e com a ajuda de outras pessoas” (Dweck, 2006).
Ter um Mindset de Crescimento é acreditar que, com esforço, dedicação, persistência e ajuda, eu posso conseguir!
Por oposição, um Mindset Fixo é a crença de que a minha inteligência e qualidades são imutáveis e permanecem estáveis ao longo da vida. Um Mindset Fixo faz-nos sentir que estamos constantemente a ser postos à prova. Como se ter sucesso fosse um resultado binário: ou tens boas avaliações e és inteligente, ou tens más avaliações e és burro. É o mindset fixo que nos leva a dizer coisas como: “Eu vou para letras porque não tenho jeito nenhum para as matemáticas”.
Esta ideia de que “não consigo” e, portanto, nem vale a pena considerar esse caminho, pode ser profundamente limitadora. Como se, quando colocados perante um problema, sentíssemos automaticamente um nó no estômago, o nosso cérebro bloqueasse e o pensamento simplesmente não ocorresse. O Mindset Fixo parece condicionar automaticamente a resposta do nosso corpo. Nestes momentos é preciso respirar fundo, fazer uma pausa e perceber que essa reação se deve a uma crença interna e não à realidade. Além disso, há boas notícias: o nosso verdadeiro potencial é desconhecido.
O nosso verdadeiro potencial é desconhecido!
O facto das crenças que temos sobre nós mesmos determinarem, em grande parte, a nossa atitude perante a vida, significa que, se mudarmos a forma como pensamos, podemos mudar a nossa atitude perante os desafios que encontramos na vida. Se começar a acreditar que “sou capaz”, então eu vou tentar, arriscar e persistir. Pois é, mas não há um botão onde se possa carregar e fazer isto acontecer facilmente.
Mudar a crença sobre nós mesmos exige consciência, muito trabalho, muita coragem e implica também aceitarmos que vamos errar muitas vezes.
Aceitar o erro e a crítica interna – aquela voz que nos diz num momento menos feliz “que burro/a, nunca devias ter tentado! Olha o que aconteceu, és uma desgraça!”. Passa por perceber que neste tipo de discurso interno está uma grande mentira. Nenhum de nós se reduz ao resultado das nossas tentativas. Nenhum de nós se resume às avaliações no final do período letivo!
Como podem os profissionais de educação cultivar um Mindset de Crescimento nos seus alunos?
Então, voltando à questão central, que é a de promover o sucesso na aprendizagem dos alunos, o que podem os profissionais de educação fazer para cultivar um Mindset de Crescimento nas crianças?
Deixamos algumas dicas que poderão ajudá-lo(a) nesta nobre missão de empoderar as crianças com confiança, resiliência e gosto pela aprendizagem:
- Ensine o Mindset de Crescimento: as crianças gostam de saber que o seu cérebro é como um músculo. Quando se aprendem coisas novas as ligações minúsculas no cérebro multiplicam-se e tornam-se mais fortes. Quanto mais se desafia a mente a aprender, mais se fortalecem os “caminhos” neuronais no cérebro.
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- Adote uma abordagem positiva em relação ao erro: os erros são oportunidades de aprendizagem e não falhas definitivas. Tenha em mente que errar faz parte do processo de crescimento e que cada desafio superado contribui para o desenvolvimento da inteligência e capacidades dos alunos. Por isso, transmita-lhes esta visão e seja coerente nas suas atitudes perante os erros.
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- Elogie o esforço e a persistência: em vez de elogiar a inteligência e os resultados, elogie o esforço e a dedicação dos alunos. Destaque as situações em que a persistência e o treino estiveram presentes para que as crianças entendam que o sucesso está em tentar de novo, persistir, encontrar estratégias diferentes, pedir ajuda e aprender com os erros.
- Ajude a confrontar pensamentos limitadores: reconheça e desmonte os pensamentos limitadores dos seus alunos: “Não consigo!”; “Não sou capaz”; “Isto é muito difícil, não é para mim”. Substitua por outros alternativos de crescimento: “Não sou capaz, AINDA”; “Não consigo, AINDA”; “Se é difícil, é porque é mesmo para ti”. Um discurso sustentado na confiança é essencial para os seus alunos se sentirem apoiados e libertarem-se de crenças limitadoras.
Conheça e explore um recurso inovador que é a expressão lúdica do Mindset de Crescimento VS Mindset Fixo.
A peça de Teatro Sonoro “As Aventuras do Pirata Osório” é um recurso incrível para despertar o potencial de aprendizagem dos seus alunos!
Em 8 episódios envolventes, o Pirata Osório e os seus amigos embarcam em busca de um tesouro perdido, enfrentando desafios e aprendendo importantes lições ao longo do caminho. Tal como os seus alunos, também o Pirata Osório sente frustração, desânimo e tem vontade de desistir quando os ventos não sopram de feição!
Pensada especialmente para crianças entre os 5 e os 11 anos, elas encontrarão aqui muita inspiração, aprendizagens e estratégias valiosas para enfrentar desafios, cultivando um mindset de crescimento. Através destas aventuras divertidas, as crianças desenvolverão a confiança, o foco, a prática, as estratégias, a calma e a apreciação dos erros. Afinal, são estas as bases fundamentais do sucesso na aprendizagem!
Oiça abaixo um pequeno excerto do primeiro episódio!
Deixamos seguidamente algumas dicas para explorar este recurso inovador com os seus alunos!
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- CRIE UM CINEMA SONORO
Com as mesas afastadas, crie um espaço onde as crianças se possam deitar no chão e simplesmente ouvir “As aventuras do Pirata Osório”. Se tiver colchões ou almofadas, tanto melhor. Pode sugerir que fechem os olhos para se concentrarem mais no som e ativarem a sua imaginação. No início vão estranhar, mas depois vão gostar!
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- CRIE UMA PEÇA DE TEATRO
Dê uso à imaginação e expressão dramática dos seus alunos e coloquem “As Aventuras do Pirata Osório” em 3D! Criem cenários, adereços, (re)criem os personagens, ensaiem e façam um teatrinho final! Coloquem diferentes competências em prática, ensaiem e divirtam-se, trazendo o verdadeiro espírito de um mindset de crescimento para o palco!
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- CRIE UM TEATRO DE FANTOCHES
Depois de um primeiro momento de escuta da história e familiarização com os personagens, proponha aos alunos construírem os bonecos de fantoche e alguns elementos da história (eg., navios). O som pode ser o dos áudios gravados ou, se forem mais crescidos, a própria voz dos alunos. Distribua os personagens, ensaiem e divirtam-se!
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- REFLETINDO SOBRE A HISTÓRIA EM GRUPOS
Distribua a escuta do Teatro Sonoro por 8 aulas, um episódio por aula. No fim de cada escuta, organize a turma em pequenos grupos e leve-os a refletir sobre a história, sobre o que aprenderam nesse episódio, o que gostariam de levar consigo. Nomeie um porta-voz para partilhar as descobertas no grupo turma.
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- DÊ ASAS À IMAGINAÇÃO E AOS LÁPIS
Depois de ouvirem a história, desafie as crianças e escolher um dos personagens e a desenhá-lo, baseado na escuta e na imaginação de cada um! No final, podem mostrar os diferentes Piratas, Gagaís, Preguis desenhados, não com o objetivo de se compararem, mas de apreciarem a energia criativa que todos temos!
NOTA: Não mostrar o desenho dos personagens que aparece no site, antes da atividade.
Ana Teresa Almeida, da Escola das Emoções, representando o Pirata Osório
Estas atividades permitem aos alunos refletirem e/ou incorporarem “na pele” a importância da persistência, da diversificação de estratégias, do pedir ajuda, de encarar os erros como parte da aprendizagem, de ganhar confiança e outras competências associadas a um mindset de crescimento!