Como podemos ajudar os nossos filhos a acreditar neles mesmos?

Sabemos que a vida vem com obstáculos, adversidades, dificuldades e muitas dúvidas e que nem sempre os pais ou educadores lá estarão para ajudar. Então, como enfrentar os desafios da vida com resiliência e humildade? Não sabemos! Mas, talvez tenhamos uma ideia que pode ajudar os nossos filhos: cultivar um mindset de crescimento desde a infância. 

“Eu não tenho jeito nenhum para isto”

“Eu não sou bom/boa nisto!”

Quem nunca disse ou pensou tal coisa? 

Esta voz crítica que ouvimos internamente tem o poder de criar insegurança e dúvida. Diminui muitas vezes a nossa coragem para arriscar, experimentar algo novo, tomar um caminho diferente. Mas também nos protege do fracasso, do erro e da dor. 

O problema é quando essa voz se torna tão forte que nos impede de crescer, de fazer melhor, de conhecer mais, de criar novidade, de compreender o diferente… E não fazer nada disto é como uma criança que não arrisca levantar-se e dar os primeiros passos! Todos nós queremos que os nossos filhos deem passos importantes com segurança e confiança em si mesmos. Queremos que experimentem, que tentem e persistam, vencendo o medo daquela voz crítica. Mas como? 

O que é mindset de crescimento (growth mindset)? 

Carol Dweck é o nome incontornável na literatura do mindset de crescimento. A autora define este conceito como a crença de que a minha inteligência e qualidades são aspetos que posso cultivar através dos meus esforços, estratégias e com a ajuda de outras pessoas (Dweck, 2006). 

Ter um mindset de crescimento é acreditar que, com esforço, dedicação, persistência e ajuda, eu posso conseguir! 

Por oposição, um mindset fixo é a crença de que a minha inteligência e qualidades são imutáveis e permanecem estáveis ao longo da vida. Um mindset fixo faz-nos sentir que estamos constantemente a ser postos à prova. Como se ter sucesso fosse um resultado binário: ou tens boas avaliações e és inteligente, ou tens más avaliações e és burro. É o mindset fixo que nos leva a dizer coisas como: “Eu vou para letras porque não tenho jeito nenhum para as matemáticas”

Esta ideia de que “não consigo” e, portanto, nem vale a pena considerar esse caminho, pode ser profundamente limitadora. Como se, quando colocados perante um problema, sentíssemos automaticamente um nó no estômago, o nosso cérebro bloqueasse e o pensamento simplesmente não ocorresse. O mindset fixo parece condicionar automaticamente a resposta do nosso corpo. Nestes momentos é preciso respirar fundo, fazer uma pausa e perceber que essa reação se deve a uma crença interna e não à realidade. Além disso, há boas notícias: o nosso verdadeiro potencial é desconhecido. 

O nosso verdadeiro potencial é desconhecido! 

O facto das crenças que temos sobre nós mesmos determinarem, em grande parte, a nossa atitude perante a vida, significa que, se mudarmos a forma como pensamos, podemos mudar a nossa atitude perante os desafios que encontramos na vida. Se começar a acreditar que “sou capaz”, então eu vou tentar, arriscar e persistir. Pois é, mas não há um botão onde se possa carregar e fazer isto acontecer facilmente.

Mudar a crença sobre nós mesmos exige consciência, muito trabalho, muita coragem e implica também aceitarmos que vamos errar muitas vezes.  

Aceitar o erro e a crítica interna – aquela voz que nos diz num momento menos feliz “que burro/a, nunca devias ter tentado! Olha o que aconteceu, és uma desgraça!”. Passa por perceber que neste tipo de discurso interno está uma grande mentira. Nenhum de nós se reduz ao resultado das nossas tentativas. Nenhum de nós se resume às avaliações no final do período letivo! 

Todos nós nos vamos definindo pela aprendizagem que essas tentativas e erros nos permitem. 

Todos nos vamos conhecendo melhor nas diferentes estratégias que escolhemos para resolver um problema. Todos vamos descobrindo um pouco mais sobre nós próprios quando, na relação de ajuda com o outro, acrescentamos mais uma perspetiva à nossa visão. Então, se não há um botão para carregar, como podemos mudar de um mindset fixo para um mindset de crescimento? Não havendo receitas, convidamo-la/o a conhecer estes 5 ingredientes:

5 Ingredientes para cultivar o Mindset de Crescimento desde a infância

1. Crie um ambiente propício 

É muito importante os seus filhos sentirem que estão num contexto afetuoso, cooperativo e de confiança. É fácil fazer juízos de valor sobre as crianças, comparando-as: “Ela tem muito jeito para desenhar, já o irmão é mais jogador da bola!”“Ele é um craque na matemática, já a irmã é mais distraída!”. Quem nunca?

As nossas reações aos comportamentos dos nossos filhos ou alunos moldam as suas crenças em relação às suas capacidades. Por exemplo, como é que eu reajo quando cometem um erro? Digo logo: “Está errado!”“Que disparate! Isso não tem nada a ver! Nem ouviste a pergunta”. Questione-se: Fiquei desapontada/o? Fiquei irritada/o, zangada/o? Ou aceitei o erro? Procurei com a criança refletir sobre o que poderia ser melhorado? E quando a criança tenta novamente? Que expectativas lhe transmito? Será que a minha expressão passa a ideia de que não ficarei contente se ela voltar a errar? Estou a colocar uma expectativa muito elevada e a prejudicar a sua confiança? Ou estou disponível para ajudar e a tentar com ela as vezes que forem precisas porque sei que ela vai conseguir? 

Ganhar consciência das nossas respostas ao processo de aprendizagem dos nossos filhos, e de como isso influencia a criação de um espaço seguro, é o primeiro passo. E não há nada como aquele momento de celebração e entusiasmo quando a criança quase consegue… mais uma tentativa, já falta pouco e de repente: “Boom!!! Boa! Conseguiste!”

Também pode usar a sua criatividade para colocar todos os dias desafios divertidos aos seus filhos. Por exemplo: hoje tenta escovar os dentes com a mão esquerda (se a criança for dextra), ou faz a tua cama ao pé coxinho. 

2. Ensine o que é o mindset de crescimento

O nosso cérebro é como um músculo. Quando se aprendem coisas novas as ligações minúsculas no cérebro multiplicam-se e tornam-se mais fortes. Quanto mais se desafia a mente a aprender, mais se fortalecem os “caminhos” neuronais no cérebro. Investigações recentes mostram que as redes neuronais são fortalecidas através do treino, do exercício, da repetição, do estudo, enfim, do trabalho (Dweck, 2008). O cérebro muda e fortalece-se consoante o seu uso. Quando explicada esta maravilhosa descoberta da ciência irá fascinar os seus filhos! E há formas bem divertidas de explicar isto. Veja com eles os excelentes vídeos do Mojo no YouTube ou partilhe histórias e biografias inspiradoras como a história do Panda Kung Fu ou da Lego. Nestas histórias é muito importante trabalhar os aspectos que explicam o sucesso conhecido. Ajude os seus filhos a identificar o “acreditar” que se é capaz, a persistência, o esforço, a ajuda de outros e o não desistir como fatores que permitem alcançar novos patamares do nosso potencial. E com isto, porque não criar algumas frases empoderadoras, como, por exemplo, “Não consigo, AINDA”“Praticar fortalece o meu cérebro!”“Eu dou o meu melhor!” mantendo-as visíveis na sala de aula ou no quarto? 

3. Trabalhe e planeie para o sucesso das suas crianças

Às vezes, vale a pena começar com um nível de exigência menor e à medida que a criança vai ganhando confiança nas suas capacidades aumentamos um pouco o nível de exigência. É muito gratificante ver um filho atingir o sucesso como resultado dos seus esforços e dedicação. Este sentimento de realização e verdadeira felicidade reforça a auto-estima e promove a autoconfiança. Mais um mantra poderoso: “Eu acredito em mim!”. Seja um fã! Faça perguntas em jeito de feedback: “Como é que te sentiste? Achas que podias ter feito diferente? Como? Achas que é possível fazer algumas dessas opções? Boa! Então, o que aprendeste agora?”Experimentar é a palavra chave. Se eu não experimentar corajosamente nunca vou saber.

4. Ajude a confrontar pensamentos limitadores 

Reconheça e desmonte os pensamentos limitadores dos seus filhos“Não consigo!”“Não sou capaz”“Isto é muito difícil, não é para mim”. Substitua por outros alternativos de crescimento: “Não sou capaz, AINDA”“Não consigo, AINDA”“Se é difícil, é porque é mesmo para ti”Um discurso sustentado na confiança é essencial para o seu filho se sentir apoiado e libertar-se de crenças limitadoras. A utilização de metáforas é também uma excelente estratégia: “Já viste algum gato a conseguir beber leite de um copo? Não, pois não? E isso não faz dele menos capaz, pois não? Então, se calhar tu também precisas de aprender de outra maneira, por exemplo em vez de apenas leres o livro, porque não conversas sobre as tuas dúvidas com uma colega?”

Por vezes (muitas vezes), temos de lidar com a frustração. Aquele desespero de quem, apesar do esforço e das horas despendidas na mesma tarefa, tem a sensação que anda a bater com a cabeça nas paredes. Parece que tudo corre mal! É a Lei de Murphy a dar o ar da sua graça nos piores momentos. É muito importante nesta altura de desgaste fazer uma pausa, descansar o cérebro e diversificar o estímulo. Tal como os atletas de competição fazem entre provas. Uma recuperação ativa que passa por atividades diferentes daquela que foi o foco nas últimas horas ajudará o seu filho a ganhar perspetiva e novo fôlego para continuar. Além disso, é preciso não esquecer e reconhecer o progresso efetuado, criando âncoras que celebram as pequenas vitórias: “Afinal, já fizeste imenso. Quando começaste este projeto nem sabias bem qual era o objetivo, agora já tens um plano claro sobre o que fazer”.

5. Elogiar de forma consciente

Elogiar especificamente a inteligência ou o talento reforça a crença de que o seu filho tem um traço permanente que determina o seu sucesso ou insucesso, por oposição à crença de que ele pode aprender e desenvolver o seu talento. Assim, o elogio deve passar pela valorização do esforço, pelo reconhecimento da utilização de diferentes estratégias e pela apreciação da persistência. É o processo de aprendizagem e a evolução que este traz que permite ao seu filho perceber que a sua dedicação e trabalho é mais determinante para o sucesso do que uma característica que não controla. Se a criança se esforçou e não conseguiu, sabemos que não está sozinha. De certeza que no seu meio alguém já passou pelo mesmo, um adulto, outra criança, um irmão ou irmã que pode ajudar e empatizar com as dificuldades encontradas. E quando for muito fácil? Aqui os jogos de computador são um bom exemplo: é passar para o nível de dificuldade seguinte! O elogio neste caso não ajuda, afinal não houve grande esforço. No fundo, é como dizermos aos nossos filhos: “Tens mais potencial do que imaginas”

Bibliografia:

– Dweck, C. (2014). Mindset: A Atitude Mental para o Sucesso. Vogais;

– Dweck, C. (2008). Mindsets and Math/Science Achievements. Carnegie Corporation of New York-Institute for Advanced Study Commission on Mathematics and Science Education.

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