O que são virtudes e forças de caráter?

Enquanto pais procuramos educar os nossos filhos para que tenham um bom caráter. Mas, o que significa ter um bom caráter? Para muitos filósofos e pensadores religiosos, ter um bom caráter está diretamente associado à prática das virtudes(1)

Christopher Peterson e Martin Seligman(1) lideraram uma equipa de investigadores que teve como missão estudar as virtudes. Esta equipa fez um levantamento extensivo das características mais valorizadas por diversas culturas, ao longo de diferentes épocas históricas, do qual resultou um conjunto de 24 forças de caráter, agrupadas em 6 virtudes. São elas:

  • Virtude da Sabedoria e conhecimento: Pensamento Crítico, Gosto pela aprendizagem, Perspetiva, Curiosidade e Criatividade;
  • Virtude da Coragem: Bravura, Persistência, Honestidade e Entusiasmo;
  • Virtude da Humanidade: Amor, Generosidade e Inteligência social;
  • Virtude da Transcendência: Apreciação da Beleza e Excelência, Gratidão, Esperança, Humor e Espiritualidade;
  • Virtude da Temperança: Prudência, Autocontrolo, Humildade e Perdão;
  • Virtude da Justiça: Liderança, Justiça e Trabalho em Equipa.

De acordo com este modelo, as forças de caráter são traços morais desejáveis e “caminhos” para alcançar as virtudes. Elas traduzem-se em pensamentos, sentimentos e comportamentos, constituem uma linguagem comum que descreve o que há de melhor na humanidade, refletem a nossa identidade pessoal, produzem resultados positivos para nós e para os outros (por exemplo: bem-estar, relacionamentos positivos) e contribuem para o bem comum(2).

Todos possuímos as mesmas forças de caráter?

Cada ser humano é uma combinação única destas 24 forças, expressas em diferentes graus, dimensões e contextos(3). Assim, em cada um de nós, há forças que se manifestam em maior, médio ou menor grau. As cinco forças que possuímos em maior grau são habitualmente designadas por “forças de assinatura”. As forças de assinatura são aquelas que melhor captam a nossa essência, já que: 

  • nos dão um sentimento de autenticidade (“isto sou mesmo eu!”);
  • nos energizam e alegram quando as pomos em prática;
  • ansiamos por encontrar novas formas de as usar;
  • são inevitáveis e naturais em nós;
  • estão presentes nos nossos melhores projetos pessoais.

Se quiser conhecer melhor as suas forças de assinatura em diferentes esferas da sua vida, realize o exercício de bem-estar “Forças 360º”.

Porque são importantes?

As forças de caráter contribuem para um maior bem-estar, melhor desempenho escolar e funcionamento social. Vários estudos revelam que o uso das forças está associado a vários indicadores de bem-estar, como por exemplo:

  • diminuição do stress(4), da depressão(5, 6) e ansiedade(6,7);
  • aumento da vitalidade; da expressão de emoções positivas(7) e do bem-estar(5) ;
  • maior satisfação na vida(6).

Para além do bem-estar, Park e Peterson(7) descobriram que as forças da persistência, justiça, honestidade, esperança e perspetiva previram a média dos resultados escolares (tendo sido controlado o QI).

Projetos escolares desenhados para promover o uso das forças de caráter têm mostrado que é possível cultivá-las desde cedo, potenciando o desenvolvimento do caráter nas crianças(3, 5, 7).

4 formas de cultivar a consciência e uso das forças de caráter nas crianças:

O que os pais fazem, nos primeiros anos, nutre as forças emergentes que ajudarão os filhos a serem bem sucedidos. Afinal, são eles os primeiros modelos de aprendizagem! Mas, como cultivá-las nas crianças?

1. Criar bons momentos e estar com intenção.

Sempre que possível crie bons momentos. Não é preciso grandes eventos, nem gastar dinheiro! O que importa é passar tempo com a criança, dar-lhe atenção e estar em pleno com ela.

2. Ver o bem. Dizer o bem.

Dê à criança o vocabulário certo para falar sobre as suas forças. Quando ela fizer algo bom, diga que força usou (por exemplo: “Vi que emprestaste o teu brinquedo ao mano, foste bondoso com ele”).

3. Ligar o que está fora ao que está dentro.

Forças e sentimentos positivos devem andar ligados. Quando a criança usar bem uma força, pergunte como se sentiu. Ligar o “fazer bem” ao “sentir-se bem” ajuda a construir essa conexão (por exemplo: “Vi como te esforçaste para acabar o puzzle. Sentiste-te orgulhoso quando o acabaste!”)

4. Ajudar a criança a lembrar-se das forças que usou.

Quanto mais lembrar a criança das forças que usou durante o dia, maior a probabilidade de ela construir uma crença positiva sobre si própria (por exemplo: ao deitar convide-a a lembrar-se das forças que usou e nomeie-as).

Como podem os recursos da Semear Valores ajudar a cultivar forças de caráter? 

Semear Valores tem apostado em recursos pedagógicos que ajudam famílias e educadores formais a cultivar as forças dos próprios e das crianças com quem convivem ou trabalham. 

Para além das diversas formações que temos vindo a realizar, os nossos recursos mais populares foram desenvolvidos a pensar nas crianças e no feedback das famílias e educadores, usando a nossa criatividade e trabalho em equipa. 

O jogo “Crescer em Forças” tem tido um impacto muito interessante nas crianças e a experiência diz-nos que miúdos e graúdos divertem-se, enquanto reconhecem forças uns nos outros. Pode ser jogado em família ou na escola, ajudando pais e professores a construir com as crianças um vocabulário mais positivo e um clima de maior bem-estar e cidadania. 

Para complementar, e com o principal objetivo de incentivar e reconhecer as crianças pelo uso das suas forças na vida diária, criámos as “Medalhas Crescer em Forças”, um produto digital ilustrado que pode ser facilmente impresso e recortado.

Contar histórias é uma das formas mais eficazes de levar às crianças mensagens importantes e que ficam na memória. Assim, o livro infantil Yuki, o robô com coração. Os Superpoderes da Amizade tem também como propósito despertar nas crianças a consciência das suas forças e a apreciação dos outros. Foi pensado para leitores entre os 6 e os 10 anos, mas o feedback que já recebemos de várias famílias e escolas mostraram-nos que o Yuki simplesmente toca corações, não importando a idade! O livro já inspirou também uma meditação que pode ouvir aqui e criar nas crianças bem-estar. Veja estes e outros recursos divertidos e úteis aqui.

Bibliografia: 

1) Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character Strenghts and Virtues: A handbook and Classification. New York: Oxford University Press and Washington, D.C.:  American Psychological Association;

2) Niemiec, Ryan M. (2018), Character Strengths Interventions: a field guide for practitioners. Hogrefe Publishing;

3) Kern, M.L. & Kaufman, S.B. (2017). Research in Positive Education. Em E. Larson (Ed.), The State of Positive Education (pp. 29-33). World Government Summit / International Positive Education Network (IPEN). Disponível em: http://www.ipositive-education.net/ipens-state-of-positive-education-report/;

4) Wood, A. M., Linley, P. A., Maltby, J., Kashdan, T. B., & Hurling, R. (2011). Using personal and psychological strengths leads to increases in well-being over time: A longitudinal study and the development of the strengths use questionnaire. Personality and Individual Differences, 50, 15–19;

5) Proctor, C., Maltby, J., & Linley, P. (2011a). Strengths use as a predictor of well-being and health-related quality of life. Journal of Happiness Studies, 12, 153–169;

6) Gillham, J., Adams-Deutsch, Z., Werner, J., Reivich, K., Coulter-Heindl, V., Linkins, M., & Seligman, M. E. P. (2011). Character strengths predict subjective well-being during adolescence. The Journal of Positive Psychology, 6, 31–44;

7) Park, N., & Peterson, C. (2008). Positive psychology and character strengths: Application to strengths-based school counseling. Professional School Counseling, 12 (2), 85–92.

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